🚨 A Batalha Digital pela Carteira: Literacia Financeira, Finfluencers e o Imperativo de Educação nas Escolas
A Realidade da Literacia Financeira em Portugal: Abaixo do Potencial
A literacia financeira (LF) é a capacidade de um indivíduo compreender e aplicar eficazmente várias competências financeiras, desde a gestão orçamental ao investimento e planeamento para a reforma.
Apesar dos esforços (incluindo programas regionais na Madeira), o 4.º Inquérito à Literacia Financeira em Portugal revela um cenário de contrastes: embora os portugueses demonstrem atitudes e comportamentos relativamente positivos (preocupação com o orçamento), persistem lacunas importantes nos conhecimentos financeiros, especialmente em temas como o cálculo de juros simples e compostos. Esta deficiência limita a capacidade de tomar decisões informadas no dia a dia.
A Nova Arena: O Boom da Literacia nas Redes Sociais
O tema da literacia financeira vive um período de massiva divulgação, impulsionado pelas redes sociais (TikTok, YouTube, Instagram). Milhares de finfluencers (influenciadores financeiros) surgiram em Portugal e na Madeira, prometendo rentabilidade, desmistificando o investimento e incentivando a autonomia financeira.
Este fenómeno democratiza o acesso a conceitos que eram exclusivos, mas a falta de filtro e de regulamentação inerente a estas plataformas levanta um alerta crucial.
O Barómetro da Carteira: Quem Ganha e Quem Perde?
O aumento da LF representa um ganho líquido para o cidadão e para a economia, permitindo a passagem de uma “mentalidade de sorte” para uma “mentalidade de responsabilidade”.
Setor | Ganhos | Perdas |
Cidadão/Utilizador | Maior autonomia, acesso rápido a informação e capacidade de identificar fraudes e esquemas. | Risco de decisões impulsivas e mal informadas, incentivadas pela “gamificação” do investimento em certas plataformas. |
Instituições Financeiras Tradicionais | Oportunidade de educar e atrair novos investidores jovens. | Perda de margens de lucro elevadas. Perdem o cliente passivo que não questiona comissões e spreads (a inércia do consumidor). |
Setor Fraudulento | — | A capacidade de enganar o público (através de esquemas Ponzi ou promessas de “dinheiro fácil”) diminui drasticamente, pois a base da fraude é a iliteracia. |
O Interesse da CMVM: O Combate à Intermediação Ilegal
A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) tem reforçado a sua intervenção contra os finfluencers nas redes sociais. O interesse da CMVM em “cair em cima” destes produtores assenta em três pilares essenciais:
- Proteção do Investidor: Muitos finfluencers transcendem a “literacia financeira” e praticam intermediação financeira ilegal ou aconselhamento para investimento sem estarem autorizados e registados na CMVM.
- Publicidade Enganosa: A CMVM identificou inúmeras irregularidades onde o conteúdo esconde a natureza comercial da parceria ou promove produtos não regulados. O aviso de que “Isto não é aconselhamento financeiro” não é suficiente para a CMVM.
- Combate à Fraude Sistémica: Os burlões usam as redes sociais para a usurpação de identidade de figuras públicas. A atuação da CMVM é crucial para proteger a credibilidade do mercado e as poupanças dos cidadãos.
O Imperativo Educativo: Por Que a LF Deve Ser Obrigatória nas Escolas
Para que a sociedade evolua e o cidadão tenha autonomia, a LF tem de ser integrada no sistema educativo desde o ensino básico às instituições de formação profissional.
- Combate à Exclusão na Origem: Os jovens e as pessoas com baixos níveis de escolaridade apresentam os índices de literacia mais baixos. A escola é o único lugar que pode garantir o acesso universal a conceitos básicos como juros compostos, orçamento familiar, e a distinção entre necessidade e desejo, antes de entrarem no mercado de trabalho.
- Preparação para o Digital: O cidadão precisa de ser preparado para lidar com um ecossistema financeiro mais complexo, que inclui o potencial Euro Digital e os Criptoativos, minimizando a vulnerabilidade a fraudes digitais e a volatilidade do mercado.
- Redução da Dependência Estatal: O conhecimento financeiro é uma estratégia de desenvolvimento social. Ao aprenderem sobre LF, os cidadãos podem melhorar o planeamento para a reforma e diminuir a dependência de apoios estatais, o que fortalece a resiliência económica do agregado familiar.
Conclusão IACC: Investir no Conhecimento
Divulgar a literacia financeira nas escolas e instituições não é apenas uma recomendação pedagógica; é uma estratégia de desenvolvimento económico e social. O interesse da CMVM e o imperativo educativo apontam para o mesmo fim: garantir que a próxima geração de portugueses estará apta a prosperar num mundo digital complexo, tomando decisões que beneficiam a sua carteira, a sua família e a economia.